Patrimônios Históricos de São Paulo vão ser demolidos para liberar espaço

Patrimônio Histórico de São Paulo vai ser destruido em prol das construtoras.


Após mais de nove meses de discussão, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) decidiu excluir do processo de tombamento 23 imóveis na região da Lapa, zona oeste da capital. Na mesma reunião, aprovou tombamento de outros 17 imóveis, incluindo o Mercado Municipal da Lapa, a Estação Ciência, o Sesc Pompeia e a Casa de Guilherme de Almeida, em Perdizes.

Os imóveis entraram na pauta do conselho por indicação popular, em audiências públicas nas 31 subprefeituras, durante a elaboração dos Planos Regionais Estratégicos, em 2004, como Zona Especial de Preservação Cultural (Zepecs). Conforme o Estado revelou em agosto do ano passado, a exclusão dos imóveis do processo de tombamento libera cerca de 1,5 milhão de metros quadrados, que estavam, desde 2004, impossibilitados de serem utilizados pela construção civil. A maior parte dos bens excluídos fica perto da chamada "Lapa de baixo", nos arredores da linha férrea usada pela empresa de cargas MRS e pela Companhia Paulista de Trens Metropolitano (CPTM) - exatamente a área em que está prevista a Operação Urbana Vila Leopoldina-Jaguaré, cuja intenção é levar cerca de 175 mil pessoas à região degradada da Lapa.

O valor histórico dos imóveis excluídos, principalmente galpões e casarões da primeira metade do século passado, é contestado por especialistas e pela Secretaria da Cultura desde as primeiras reuniões, no ano passado. "As análises foram minuciosas, para separar o que tinha valor histórico", afirma o presidente do Conpresp, José Eduardo de Assis Lefèvre. "Havia casos em que os imóveis indicados para tombamento nem existiam mais ou que estavam descaracterizados. Não poderíamos tombá-los assim."

No total, foram excluídos do processo de tombamento oito conjuntos de casas e sete de antigos galpões. "Há imóveis abandonados, cuja utilização já não é absolutamente a que foi prevista. É natural que, agora, seja encontrado um novo uso, seguindo o zoneamento proposto pela Prefeitura", disse Lefèvre.

Para entidades de defesa da região, a decisão do conselho, que abre caminho para novos empreendimentos imobiliários, vai mudar a cara do bairro. "Fica claro o objetivo de desobstruir as proximidades da linha férrea, exatamente o ponto de ligação entre duas operações urbanas, a Água Branca e a Leopoldina-Jaguaré. Com espigões próximos da ferrovia, a Lapa histórica, dos trens e dos operários, será completamente esquecida", afirma a geógrafa Ros Mary Zenha, integrante do Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente na Lapa. "Na lista dos bens tombados há duas igrejas, três colégios, o Mercado da Lapa (veja lista abaixo), somente as grandes unanimidades, e não há quase nada da Lapa histórica. O projeto deveria ser de preservar e recuperar o que caracteriza o bairro e não liberar esse espaço para demolição."

Entre os imóveis excluídos estão reivindicações antigas de moradores do bairro, como a vidraria Santa Marina - atual Saint Gobain Vidros -, fundada em 1896 na Avenida Santa Marina, e o galpão industrial da Fábrica de Tecidos e Bordados da Lapa, na Rua Engenheiro Fox, uma das mais antigas da região, que mantém elementos de época, como as grandes janelas basculantes originais. A justificativa, segundo relatórios técnicos do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), é "falta de valor arquitetônico que justifique a preservação".

Como tentativa de preservar uma parte da área baixa da Lapa, o Conpresp adiou a decisão sobre 11 imóveis, no eixo entre a ferrovia e o Rio Tietê, também enquadrados como Zepecs na revisão do Plano Diretor, em 2004. "Avaliamos que manter algumas casas, simples, mas que representam o cotidiano operário do bairro no início do século passado, é o suficiente para preservar as características fundamentais do bairro", disse Lefèvre. A próxima reunião, que deve definir o futuro dos imóveis restantes, ainda não tem data definida.

Fonte: Agência Estado


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